Entenda de uma vez o seu significado...
De onde vem a macroprolactina (macroPRL)?
A prolactina (PRL) é uma proteína globular sintetizada e secretada, principalmente, pelas células lactotróficas da parte anterior da glândula hipófise.
O nosso organismo apresenta três variantes principais da PRL que podem ser encontradas no sangue. Veja a figura abaixo:
A forma monoPRL tem um peso molecular de 23 kDa e corresponde pela maior parte (80 a 90%) da imunorreatividade da PRL total circulante no soro dos indivíduos.
A big PRL tem um peso molecular de 48 a 56 kDa e acredita-se ser um dímero de PRL ligado de forma covalente.
A macroPRL (também chamada de big big PRL) tem um peso molecular de 150-204 kDa e é constituída a partir de uma monoPRL ligada a anticorpos do tipo IgG formando um complexo “antígeno-anticorpo” (monoPRL-IgG). Esta corresponde, junto com a big PRL, cerca de 10 a 15% da imunorreatividade da PRL.
Outra propriedade dessas variantes da PRL é o seu tempo de eliminação pelos rins. Enquanto a monoPRL possui uma eliminação mais curta (tempo de meia-vida* entre 26 a 47 min), a macroPRL possui eliminação muito mais longa, e portanto, resultando em seu acúmulo no soro.
Acredita-se que devido ao seu tamanho grande, a macroPRL pode estar confinada à vasculatura e, consequentemente, teria dificuldade de alcançar os receptores específicos para PRL para exercer suas ações pelo corpo.
A macroPRL é frequente?
A macroPRL pode estar presente entre <1 a 4% dos soros em populações de pacientes não selecionados que possuem PRL elevada.
Como podemos detectar a macroPRL nos ensaios?
O método mais empregado na nossa prática é a precipitação com polietilenoglicol (PEG). Ele, além de ser simples, apresenta boa reprodutibilidade.
Neste método é adicionado o PEG à amostra do paciente; em seguida, ocorre a precipitação da macroPRL (pois a exposição de imunoglobulinas à concentrações predeterminadas de PEG levam à sua insolubilização). No final, realiza-se dosagem da PRL sérica (monoPRL) no sobrenadante.
A partir desses resultados é feito o cálculo do percentual de PRL que estava no sobrenadante (ou seja, a PRL recuperada) para que possamos, de fato, ter o valor real da monoPRL!! Se o percentual de recuperação for > 60%, estamos, de fato, diante de uma hiperprolactinemia; se o percentual de recuperação for < 40%, temos o diagnóstico de macroPRL. Para valores entre 40 e 60%, podemos avaliar pelo método de cromatografia de gel filtração (considerado o padrão-ouro para estudo da macroPRL).
O que a macroPRL pode causar no organismo?
Em geral, a macroPRL por ser uma molécula grande, que não consegue atravessar a parede dos vasos sanguíneos e alcançar as células-alvo e exercer suas funções, não leva a sinais e sintomas de hiperprolactinemia.
Qual é a importância de entender o significado da macroprolactinemia?
Do ponto de vista clínico, é importante identificar a presença de macroPRL como causa de hiperprolactinemia a fim de evitar tratamento medicamentoso desnecessário com agonistas da dopamina ou investigações com exames de imagem.
Esse fato é particularmente importante uma vez que 5 a 10% dos indivíduos saudáveis podem apresentar um tumor benigno (adenoma) na glândula hipófise.
Dúvidas? Converse com o especialista!
Referências:
1. Vilar L, Vilar CF, Lyra R, Freitas MDC. Pitfalls in the Diagnostic Evaluation of Hyperprolactinemia. Neuroendocrinology. 2019;109(1):7-19.
2. Samson SL, Hamrahian AH, Ezzat S; AACE Neuroendocrine and Pituitary Scientific Committee; American College of Endocrinology (ACE). AMERICAN ASSOCIATION OF CLINICAL ENDOCRINOLOGISTS, AMERICAN COLLEGE OF ENDOCRINOLOGY DISEASE STATE CLINICAL REVIEW: CLINICAL RELEVANCE OF MACROPROLACTIN IN THE ABSENCE OR PRESENCE OF TRUE HYPERPROLACTINEMIA. Endocr Pract. 2015;21(12):1427-1435.
3. McCudden CR, Sharpless JL, Grenache DG. Comparison of multiple methods for identification of hyperprolactinemia in the presence of macroprolactin. Clin Chim Acta. 2010;411(3-4):155-160.
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